COZINHA DOS PAÍSES DE LINGUA PORTUGUESA

No período colonial, fizeram-se vários ensaios de africanizar a cozinha portuguesa.Em Moçambique, por exemplo, o revitalizar do património culinário contra a adulteração daquela cozinha estranha à cultura e aos moçambicanos, foi timidamente ensaiado nos primeiros anos pós independência.Algumas das receitas divulgadas, então, eram representativas da verdadeira e genuina cozinha moçambicana.A mucapata, o mucuane, a mathapa, o tocossado o frango à zambeziana, o caril de amendoim, são alguns dos pratos a que me refiro e que são subscritos por moçambicanas bem conhecidas na arte de cozinhar.É impossível falar da cozinha moçambicana, omitindo a colonização e a consequente repressão cultural . Disto falaremos, oportunamente.
Entretanto, com a descolonização, todos e cada um dos países pode, também aqui, fazer a sua própria história.
Regressamos ao passado gastronómico, à cozinha tradicional, mergulharemos nas raízes, passaremos pelo presente, questionaremos opções e espreitamos novas influências.
Assim, apostamos na divulgação do que de mais representativo, existe, na cozinha dos países de língua portuguesa.
Gostariamos de contar com a colaboração de todos os que por aqui vão passar.


segunda-feira, 21 de abril de 2008

SARAPATEL (1)



Ingredientes:
500g de carne de porco; 500g de toucinho entremeado; 350 de fígado de porco (fac.) 2 orelhas;1 colher de café de cominhos em grão, piripiri seco, pimenta preta, cravinhos e coentros em grão;3 colheres de sopa de vinagre; 4 dentes de alho; 1 dedo de gengibre fresco;1 dl de óleo;1 colher de chá de colorau;2 cebolas; pau de canela; 1 dedo de gengibre fresco; 1 folha de louro; cravinho, sal e pimenta; 3dl de sangue de leitão ou 2 chouriços de sangue; tamarindo q.b.
Preparação:
1 – Numa frigideira, torre, lentamente e sem queimar, todos os temperos. Moa-os e reduza-os a pó.
2 – Deita-se, num tacho, água, pau de canela e 1 cebola com cravinhos. Quando a água começar a ferver, mergulha-se a carne. Não deve cozer demasiado. Pronta, retira-se e reserva-se. Faz-se o mesmo com o caldo depois de coado e desengordurado.
3 – Corta-se a carne em cubinhos e salteia-se ligeiramente.
4 – Num tacho, faça um refogado com a cebola , o alho e o gengibre picados e o louro.
Junte a carne salteada e os temperos moídos. Envolva bem. Refresque com vinho branco.
Adicione o caldo de carne que reservou. Adicione água de tamarindo ou vinagre. Deixe apurar.
5 – Adicione o sangue, diluído em vinagre. Rectifique os temperos e deixe reduzir o molho.
6 - Acompanha-se com um arroz de cardamomo ou um simples arroz branco, solto, ou ainda com sannas
Nota: Se não dispuser de sangue, coza o chouriço de sangue sem a pele. Passe por um coador, reduza e utilize no preparado. Como é sabido, este chouriço contém vinagre na sua preparação.
Esta é a minha versão de Sarapatel. Não utilizo todas as carnes nomeadamente as miudezas como o pulmão.
Adenda: Uma visitante assídua, Micas, deixou um comentário que vale a pena ler o que me obriga,aliás,clarificar algumas imprecisões na postagem.
1) O caldo onde cozem, ligeiramente, as carnes deverá ser desengordurado, isto é: remover o excesso de gordura. Isto consegue-se com uma concha que deve rodar nas paredes do tacho e retirar, pouco a pouco, a gordura que se encontra à superfície. Pode-se conseguir o mesmo resultado com papel absorvente que se vai passando pela superfície do caldo. O processo mais seguro é o de reservar o caldo, no frio, durante algumas horas. Surge assim,à superfície, a gordura solidificada (camada branca de banha) que se pode retirar facilmente com uma escumadeira.
2) Por definição, fritar significa que o alimento é submerso em bastante óleo. Saltear (sautée do francês) referem-se a alimentos que são fritos em pouco óleo. Finalmente, “stir-fried” é o acto de fritar pequenos pedaços de alimento em fogo muito alto, tradicionalmente numa wok

5 comentários:

micas disse...

Bom..então vamos lá a tentar de novo.

A receita postada por si é diferente da que sempre usei e que me foi dada por uma familiar de origem goesa.

Assim temos que na receita usada por mim os passos são os seguintes:

cozer levemente as carnes
fritá-las depois de cortadas miudamente
misturar as carnes com os temperos, depois de assados e ir juntando o caldo da cozedura( com o vinagre)em fogo lento e deixar apurar.

Garanto, que o resultado final se não igual, é muito mas muito semelhante e penso que com a vantagem de ser menos indigesto.

Mudando um pouco de tema.A net é como todos sabemos um bufo terrível, mas oh! amigo andar a advinhar-me o que comi no fim-de-semana...já é demais( ehehehe).

Um abraço e até breve

Agry White disse...

Finalmente, conseguiu! O parto estava mesmo difícil!
Obrigado pelo comentário. Como deve ter percebido, não foi por acaso que considerei SARAPATEL, versão 1. Entretanto rejeitei preciosismos. O seu comentário é um convite a fazê-lo. Irei, por isso, acrescentar (clarificando) algo mais à postagem.
Quanto à sua versão, devo confessar que não consegui apreender onde reside a diferença em relação à postagem. O lume brando não pode fazer a diferença. Quanto ao uso do vinagre é, de facto um aspecto comum em todas as receitas de sarapatel.
Recordo-me agora da versão madeirense do Sarapatel. Nesta cozinha-se em lume brando e pretende-se obter um sarapatel bem apurado e relativamente seco. Talvez seja interessante fazer uma postagem com este sarapatel.
Se quiser fazer o favor, envie-me a sua receita para com ela fazer, também, uma postagem
As alterações a introduzir, referem-se a desengordurar o caldo e saltear as carnes e não fritá-las.
Quanto à Net, eu pretendi caricaturizar a situação. Como sabe, há entidades que se dedicam à “venda” de endereços, só para dar um exemplo.
Como vê, já me obrigou produzir um comentário bem longo. Obrigado, mais uma vez e, por favor, não se esqueça do meu pedido
Abraço

micas disse...

Talvez não tenha sido muito explícita.
A diferença das 2 receitas reside no facto de na "minha" o refogado da cebola não existir.Depois de cozidas as carnes são fritas e vão-se deixando apurar juntando o caldo da cozedura.

Mas, e como em muitas outras recitas, as de sarapatel são mis do que muitas.

Vejamos a diferença do sarapatel alentejano, angolano, brasileiro e por ai fora.

Agry White disse...

Ora bem...
Em cozinha não existem dogmas embora surjam, de quando em vez, os fundamentalistas!
Apareça sempre e, com a sua presença, ajude o blog a crescer
Obrigado

Anónimo disse...

Prefiro a versão com cebola :)